segunda-feira, 10 de março de 2008

Crianças com VIH/sida vivem doença em segredo

Mais de 250 crianças têm VIH ou sida em Portugal. Muitas andam na escola, onde ninguém sabe que estão infectadas. O vírus é escondido, por decisão dos pais e aconselhamento dos pediatras e associações, que temem o estigma e a discriminação.As crianças sabem que estão doentes, que tomam mais medicamentos do que os outros meninos e que requerem cuidados especiais. Sabem tudo isto porque alguém lhes ensinou. "Mas como é que se explica a uma criança que não foi convidada para uma festa de anos porque está infectada com VIH?", pergunta Margarida Martins, da Associação Abraço. Até Dezembro do ano passado, 92 meninos até aos nove anos foram notificados como tendo sida e 175 estavam infectados com o VIH. A maioria recebeu esta pesada herança da mãe, por transmissão vertical, segundo o último relatório do Instituto Ricardo Jorge. Hoje andam na escola, onde o vírus se esconde nos recreios, longe de mitos e tabus. Em tempos, foram conhecidas as manifestações de pais que exigiam a saída de crianças infectadas das escolas dos "seus" filhos. Hoje, em prol do bem-estar dos mais pequenos, a doença tornou-se silenciosa. "Existe um vírus social que tem de ser eliminado, mas não pode ser à custa das crianças. Os pais estão mais calados porque não querem usar os seus filhos para fazer frente à discriminação", explica a presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida, Maria Eugénia Saraiva. Por isso, naquela associação que lida com pais de crianças infectadas há 18 anos, o conselho vai no sentido de omitir a informação para não expor os mais pequenos. Na Abraço, a sugestão aos educadores vai no mesmo sentido: "os pais só avisam a direcção da escola quando confiam muito nela. Mas não dizem a mais ninguém, porque sabem que há discriminação", diz Margarida Martins. E é precisamente esta situação que leva também o presidente da Secção de Infecciologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria, José Gonçalo Marques, a concordar com a manutenção do segredo no seio da família, para evitar o risco de a escola não respeitar a confidencialidade, provocando situações discriminatórias. Pesados os prós e os contras, o pediatra conclui que "as crianças bem controladas têm mais a ganhar" assim.

Fonte: SÍLVIA MAIA, Lusa - DN OnLine

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