sábado, 3 de maio de 2008

Abandono...


Cada vez mais idosos abandonados nos hospitais...
São cada vez mais os idosos que chegam aos hospitais com problemas de saúde e ali são abandonados a ocupar camas e a sofrer com este abandono que, em alguns casos, só acaba com a morte.
O Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) contabiliza, pelo menos, um "caso social" por semana.
Trata-se de idosos que dão entrada na urgência hospitalar com problemas associados à idade ou situações crónicas agudizadas e que, após alta clínica, ninguém os vem reclamar.
Luís Cunha é o director do serviço de urgências do Hospital Fernando Fonseca e, em declarações à Agência Lusa, mostrou-se preocupado com esta situação, que traduz uma cada vez maior "desresponsabilização pelos idosos".
Uns chegam acompanhados por familiares - que depois nunca mais os vêm ver e muito menos buscar -, outros pelos serviços de emergência médica e, como vivem sozinhos, não têm condições para regressar a casa.
Outros ainda são deixados pelas instituições (lares) que alegam não ter condições clínicas para os acolher.
Chegam aflitos e assim permanecem, apesar de curados das maleitas físicas. Em alguns casos, como explicou Luís Cunha, ganham depressões por terem o discernimento suficiente para entender que foram abandonados.
Não é que falem sobre este abandono. Sentem-se envergonhados e cultivam o silêncio em redor deste assunto. Outros, os que estão inconscientes por causa das incapacidades físicas e mentais resultantes da doença que os conduziu ao hospital, estão livres da consciência deste desamparo.
O Hospital Fernando Fonseca não é o único a braços com este problema que agudiza a crónica falta de camas. No Hospital Curry Cabral, os casos sociais são uma verdadeira dor de cabeça para o presidente do conselho de administração.
Pedro Canas Mendes explicou que só graças ao trabalho das assistentes sociais se têm encontrado soluções para alguns destes casos, mas manifesta-se preocupado com as situações mais complicadas dos que "nunca vão sair daqui".
"Não os podemos pôr na rua, porque somos humanos e a nossa função é salvar vidas", disse.
Pedro Canas Mendes defende uma solução que passe por alternativas ao hospital e depositou confiança na rede de cuidados continuados que o governo está a criar.
De acordo com José Artur Paiva, uma significativa quantidade de doentes constitui, além de um problema clínico, um "problema social".
"São doentes sem um substrato familiar que os apoie e suporte as deficiências associadas à doença ou então são doentes cuja manifestação aguda da sua doença crónica faz transbordar a incapacidade da família para suprir o seu estado de saúde", explicou.
José Artur Paiva frisou que, "em certos casos, a família tem vontade, mas não consegue ajudar o doente", mas reconhece que, em outros casos, existe mesmo abandono.
Nos primeiros casos, o hospital activa o serviço social e procura encontrar uma solução. Nos casos de abandono, a unidade de saúde exorta a família a perceber o seu papel, explicou.
"A sensação do desamparo é duplamente terrível, pois a fragilidade da doença é acrescida da ainda maior fragilidade do abandono", disse.

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