sábado, 1 de dezembro de 2007

Os sem-abrigo

Ora, os sem-abrigo não se deixam caçar, nem classificar, ocupam o espaço de outra forma e muito mais passivamente o seu tempo. Nos espaços públicos, nos seus percursos, parecem dirigir-se para lado nenhum, nunca fazer nada, ou servir ninguém. Por isso, tornam-se aos olhos da maioria dos seus concidadãos um objecto estranho, de agitação radical, incómodo, em suma. No entanto, uma coisa é certa. O sem-abrigo não pode continuar a ser considerado como um "corpo estranho no caminho", que está ali por acaso e que se torna necessário e urgente proteger, abrigar, ou imobilizar no espaço. O sem-abrigo tem também uma alma, quer dizer, mais prosaicamente, uma dinâmica interior, feita de recordações, de sentimentos, de desejos e mesmo de expectativas. Como cidadão, ele tem direitos, aliás, uma realidade que temos frequentemente tendência a esquecer. Ele tem o direito de utilizar os espaços públicos, de deambular nas ruas, de se sentar nos parques, de abordar e falar aos passeantes, ou de se sentar tranquilamente num estabelecimento para tomar um café.
Mas quer isto dizer que não há soluções? Que a única coisa a fazer é a aceitação das coisas tal como estão ou a frequente dádiva envergonhada?! Não, claro que não. As pistas de solução existem, estão bem documentadas e esperam, para serem colocadas em prática, maior dedicação e empenhamento da parte dos nossos políticos...
Entretanto, por que não começar por respeitar um pouco mais as pessoas "marginais". Por que não aproximarmo-nos delas, fazendo-lhes sentir que as consideramos mais do que um corpo vazio e sem sentido. Por que não começarmos a tratá-las como alguém que pertence à mesma sociedade, que não é uma ameaça ambulante que deve ser permanentemente punida e controlada socialmente.
Porque não ?

4 comentários:

tmiraldes disse...

O número de sem-abrigos em Portugal é estrondoso, sendo nas principais cidades o número maior.
Os sem-abrigo são pessoas como nós, apenas sem um tecto onde viver.
Portanto não percebo como é que esta sociedade é capaz de discriminá-los, em vez de os ajudar...

apais disse...

É uma situação realmente vergonhosa. E este fim-de-semana deveria servir de exemplo com a acção do banco alimentar contra a fome. Surpreendo-me sobretudo quando vejo pessoas a rejeitar comprar um kilo de arroz que pode ajudar uma familia argumentando que já deram na semana passada. É simplesmente vergonhoso.

fgonçalves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
dmadeira disse...

Acho que devíamos todos por de lado as diferenças que só nos tornam pessoas injustas. Devíamos sim ajudar a que os sem abrigo se entregassem na nossa sociedade...e como tu mesma dizes "porque não?"...temos de tentar com poucos passos podemos ir ajudando e se todos nos dermos um passo em frente a caminhada contra a exclusão fica mais fácil.